Diocese de Marabá (PA) se posiciona sobre a decisão do Poder Executivo de extinguir a Reserva Nacional do Cobre e Associadas (Renca).
Dom Vital Corbellini bispo da Diocese de Marabá (PA) divulgou no último dia 25, uma nota em sua rede social, manifestando sua posição a respeito do Decreto 9142/2017 de autoria do Poder Executivo.
Este decreto extingue a Reserva Nacional do Cobre e Associadas (Renca), uma área de 47 mil km2 entre o Pará e o Amapá, rica em ouro e outros minérios, mas também fundamental para a conservação da biodiversidade do bioma amazônico e a sobrevivência de comunidades locais. “Segundo relatório divulgado no mês passado pela WWF-Brasil e Jazida.com, a extinção da Renca deverá gerar uma série de conflitos entre a atividade minerária, a conservação da biodiversidade e os povos indígenas.
A Renca engloba nove áreas protegidas, sendo três delas de proteção integral: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá, a Reserva Biológica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d`Este. ” (www.wwf.org.br)
Leia a Nota na íntegra:
Até quando ocorrerão os desmandos contra a natureza e à vida dos povos indígenas?
O decreto do Governo Federal em extinguir a reserva nacional de cobre põe em risco a vida dos povos indígenas e o ecossistema natural. É o comentário em nossa região e pelos meios de comunicação social do qual unimos as nossas vozes. São milhares de hectares de reservas naturais, de povos ribeirinhos aos rios e dos povos indígenas. O decreto 9.142 revoga decisões assumidas nos anos de 1984 e 1985 nas quais mantinham essas reservas fundamentais para a vida dos povos indígenas e à natureza em geral. Será preciso rever esse decreto. Certamente com a extinção da reserva haverá a explosão demográfica, a busca pelos tesouros naturais, o desmatamento continuará de uma forma descontrolada e também o aumento dos conflitos pela terra serão contínuos num Estado, como o do Pará, que possui muitos conflitos de terra e mortes de trabalhadores e de trabalhadoras.
Ainda que o texto diga que a extinção da reserva não deva afastar aplicação da legislação sobre a proteção da vegetação nativa, que se leve em conta as terras dos povos indígenas, tudo isso será difícil para ser controlado porque haverá outros interesses em desmatamento, perdas da biodiversidade e a posse da terra em si. Temos que levar em conta que naquela região existem áreas protegidas que são as terras indígenas Waiãpi que se encontram no Estado do Amapá e o Rio Paru D’Este que fica no Estado do Pará. Como pessoas de Igreja e que acreditam em Jesus Cristo não podemos aceitar esses desmandos que vão contra a vida do próprio ser humano, e diante do próprio Criador que deu terra para ser cultivada e preservada. Falta para as nossas autoridades um programa de preservação dessas reservas naturais e a sua continua permanência.
Estamos passando por um período de seca, calores intensos em nossa região do Pará, as chuvas estão escassas. O nível dos rios está baixo, de modo que é preocupante o modelo de desenvolvimento que está querendo se implantar nesta nossa região. O Papa Francisco fala em cultura ecológica que não pode reduzir-se a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, esgotamento das reservas naturais e poluição. É preciso políticas, programas educativos, espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático(Cfr. LS111).
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 colocam a importância da vida do planeta e também no nosso pais. “A exploração inescrupulosa e conseqüente devastação da Amazônia exige da Igreja no Brasil maior responsabilidade por esta macrorregião. Requer-se dobrado e mais organizado esforço e presença profética, valorizando as culturas locais e estimulando uma evangelização inculturada”(DGAE, 121).
Como pastores, pastorais e movimentos, serviços e pessoas de boa vontade levantemos nossas vozes para uma ecologia humana, através de atitudes que respeitem a biodiversidade e de ações que zelem pelo meio-ambiente(Cfr. DGAE 122). Louvemos a bondade do Senhor pela natureza bonita que nos deu, mas, também façamos a nossa parte para que este decreto não saia do papel e a área seja preservada.
Por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá - PA
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